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Educação horizontal na prática: conheça a Escola da Ponte

Luiz Grecov
@luizgrecov

Imagine uma escola pública que, há 40 anos, abandonou o modelo de ensino tradicional, a divisão de alunos por série, a aula presencial expositiva e hoje é referência em educação horizontal com foco em formar crianças autônomas, responsáveis, criativas e analíticas. Uau! Foi o que senti ao ouvir falar do assunto… No final de 2016 […]

Imagine uma escola pública que, há 40 anos, abandonou o modelo de ensino tradicional, a divisão de alunos por série, a aula presencial expositiva e hoje é referência em educação horizontal com foco em formar crianças autônomas, responsáveis, criativas e analíticas.

educação horizontal

Uau!

Foi o que senti ao ouvir falar do assunto…

No final de 2016 fiz o curso online da didática da Escola da Ponte, de Portugal. Iniciei o curso cheia de dúvidas: Mas como isso é possível? Dá certo mesmo? Mas não tem sala de aula? Não tem aula expositiva? E as matérias escolares, como são transmitidas?

Pois é. Não tem nada disso e funciona muito bem. Não só funciona como ajuda a salvar alunos-problema vindos de outras escolas.

Toda criança na Escola da Ponte tem 9 anos para cumprir o currículo determinado pelo Ministério da Educação de Portugal, mas é ela quem decide a ordem e como quer aprender.

Pra começar, o primeiro ano letivo é sobre responsabilidades e autonomia.

Elas aprendem a gerir o tempo, encontrar o próprio ritmo, respeitar os colegas, valorizar as coisas boas e resolver as coisas ruins, tudo colaborativamente. Para cada atividade da escola, eles criaram o que chamam de “dispositivos”, que são como ferramentas que ajudam a fazer com que tudo funcione direitinho. Eu trouxe alguns dispositivos aqui que foram os que mais me apaixonei:

CADERNO DE TAREFAS
Esse dispositivo tem como objetivo ajudar o aluno a organizar seu trabalho, gerir o próprio tempo e, principalmente, encontrar seu ritmo. Basicamente, ele cria um planejamento da semana sobre o que quer aprender e quanto consegue cumprir desse aprendizado. Quanto mais novinha a criança, mais de perto o professor acompanha esse processo porque no início, a criança não sabe o próprio ritmo mas, com o passar do tempo, vai vendo o que é o seu ideal. Então, se ela passa para si muitas tarefas e não consegue cumprir, diminui a quantidade no próximo dia ou aumenta, e assim por diante.
Conforme o aluno vai ganhando autonomia, o planejamento vai se espaçando até ser quinzenal.

GRUPOS HETEROGÊNEOS

Um ponto muito interessante é que no início do ano letivo as crianças escolhem um grupo de trabalho, que deve ser mesclado, ou seja, tem que ter crianças em vários níveis de aprendizado. Isso ajuda a contrariar a padronização dos alunos e criar condições de cooperação. Elas assumem o compromisso de se ajudarem.

Somada a isso, elas usam também outros 2 dispositivos.

EU JÁ SEI E POSSO AJUDAR EM…
Depois de estudarem, quando sentem que aprenderam de fato o conteúdo, elas preenchem o dispositivo EU JÁ SEI e o professor pergunta ao aluno como ele deseja ser avaliado. A criança pode escolher: fazer uma apresentação, uma experiência, uma conversa ou inventar algo totalmente novo. A ideia é que de alguma forma ela demonstre seus conhecimentos, mas de um jeito confortável e interessante para ela mesma.

Depois da prova, o aluno pode também se colocar a disposição de outros colegas através do POSSO AJUDAR EM… Isso reforça sua responsabilidade junto aos colegas além de aprimorar o que aprendeu. Não é demais?

ASSEMBLÉIA
Todas as sextas-feiras a escola inteira – crianças, professores, etc. – se reúne para discutir temas e tomar decisões. Somado a esse dispositivo tem muitos outros que coletam informações ao longo da semana. Tem o computador ACHO BEM, ACHO MAL onde todos podem colocar elogios aos outros ou reclamar de algo ou alguém. E também tem a CAIXINHA DOS SEGREDOS onde a criança pode falar algo sem precisar se identificar.

Todos os assuntos da semana são levados para a ASSEMBLÉIA semanal para serem ouvidos e resolvidos, seja por votação, seja por decisão colaborativa. Os elogios são super importantes também para gerar nas crianças uma valorização do lado positivo das coisas.

E por último mas não menos apaixonante, cada criança, no início do ano, cria e vota nas RESPONSABILIDADES do ano e escolhe uma que tem mais a ver consigo.

Por exemplo: manter saudáveis as plantas da escola é uma atividade importante, ou cuidar para que o chão esteja sempre limpo, ou até mesmo manter o silêncio nas salas de estudo que tem uma média de 50 alunos estudando em grupos.

Sabe o que mais gostei, de tudo? Tudo é muito bem pensado, tem fundamento, faz sentido e é muito simples! A Escola da Ponte é um exemplo de aplicação da gestão horizontalizada que dá certo, mas justamente porque é construída por todos e passa por atualizações constantes.

Na minha concepção, o que faz funcionar são todos os dispositivos criados e seguidos à risca. Eles transformaram as regras verticais tomadas por poucas pessoas em dispositivos que geram coleta de informações de maneira organizada, momentos de decisão colaborativa e divisão de responsabilidades, sempre levando em consideração a vontade, ritmo e necessidade de cada participante do processo.

E o melhor, eu aprendi tudo isso no EAD mais interativo que já vi na minha vida. Durante um mês inteiro, o curso é construído baseado nas perguntas dos alunos que estão fazendo o curso. Na primeira semana é a ambientação (para aprender a lidar com o tempo no online sem ansiedade), na segunda você pergunta para pais, alunos e ex-alunos da escola, na terceira semana pergunta para professores e na quarta semana, fecha as respostas do que ainda não foi respondido.

Deixo aqui com carinho o link do próximo curso se você quiser ser provocado por esse novo pensamento. Acho que realmente vale a gente aprender com quem já deu certo.

Curso online “Fazer a Ponte no Brasil”, com o Professor José Pacheco (fundador da escola)

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