

Dessa pergunta, veio outra, daquelas de fazer acender luzinhas (se não um holofote) sobre a cabeça:“Você já sabe muito bem o que você quer contar. Mas o que o seu público realmente quer saber?”
Parece básico. Mas a maioria das pessoas foca mais no que quer dizer do que o que seu público quer saber. Só que quando não consideramos as dores do outro, não criamos conexão. Inicialmente, a fim de sensibilizar a sua plateia e gerar interesse, Carmen pensou em começar sua palestra mostrando imagens fortes de vacas machucadas. Com isso, todos se abririam para conhecer e implantar as técnicas do manejo racional em suas fazendas. Seria mesmo essa a melhor forma de criar interesse? Sendo um público que convive e pratica o manejo tradicional há tantos anos, não seriam essas imagens muito comuns para eles? Afinal, eles estavam na palestra com o intuito de receber novas informações que fossem úteis para melhorar a qualidade e quantidade da sua produção. Estavam em busca de crescimento e lucratividade, o que todo negócio busca. O propósito principal da Carmen não era simplesmente melhorar a lucratividade desses fazendeiros, e sim melhorar a qualidade de vida desses animais de produção. Mas essa é a história que ELA quer contar.“Mais do que isso, o que você quer que seu público faça após ouvir a sua palestra?”
“A Embrapa realizou uma pesquisa no ano de 2020, fazendo uma comparação entre a produtividade e o conforto térmico, e o resultado foi: os animais que tiveram acesso à sombra, produziram 22% a mais de leite e com maior qualidade. As vacas que tiveram acesso à sombra produziram 4 vezes mais embriões, do que aquelas que pastejaram no mesmo período debaixo do sol”.Além de tudo isso, a preocupação dos consumidores com a origem dos seus alimentos, vem aumentando a cada dia, além da pauta do bem-estar animal de uma forma geral. Portanto, é importante que esses produtores se atualizem das necessidades dos seus próprios consumidores. Com argumentos como esses, já podemos imaginar que a palestra foi um sucesso e marcou o início dessa jornada linda.

“Além da transformação e educação, tem a história do RESPEITO e do AMOR. No começo eu não queria falar desse aspecto. Eu sempre dava um ar mais técnico nas palestras que eu fazia, porque eu queria ser convincente, colocando apenas números. Hoje eu quero mostrar a relação dos homens e animais, e mostrar como tudo isso está conectado. O vaqueiro deixa de fazer o manejo de forma automática e entra em CONEXÃO de fato”.
A Carmen diz que: “não se trata de humanizar os animais…” (afinal os animais não são humanos, são animais) “…e sim de HUMANIZAR os HUMANOS” (como a própria palavra diz).Já deu pra começar a entender o porquê da minha identificação? Outro ponto que temos em comum, e esse já tínhamos desde 2015, é a importância que a Carmen dá para as HISTÓRIAS. Em um certo momento da palestra que ela fez no TED em 2023, ela diz:
“me dediquei desde os 22 anos pra que as histórias presentes nas nossas refeições, nos nossos pratos típicos e na nossa culinária, falem sobre respeito, responsabilidade, produção sustentável e bem estar animal…O campo tá muito mais presente no nosso dia a dia do que a gente imagina, mesmo sem a gente nunca ter pisado em um”.
“Porque você vai se colocando no lugar do outro. A melhor referência que você tem de buscar cuidados, é se colocar no lugar do outro e, dentro dessa maneira de pensar, você vai vendo qual a melhor condição que você pode dar para aquele outro ser, porque ele precisa desse conforto, dessa subjetividade. Eu quero ter essa competência de dar o melhor status pra ele, porque aquilo que ele vai dar pra mim é o melhor que ele pode dar. O valor não tangível também está no cuidado”. Em seguida, Carmen complementa “é o ciclo do ganha, ganha. É uma energia que circula”.Está aí a empatia, que é um item essencial em qualquer comunicação humanizada e principalmente na criação de um bom storytelling. Em um outro momento, Ricardo diz uma frase que me fez pausar o documentário e refletir por alguns instantes:
“O conforto é o sentido que nós temos num lugar. Com os animais é a mesma coisa”.Eu vou repetir pra ficar gravado:
Sabe qual o nome da nossa metodologia própria de ensino? Comunicação que Faz Sentido. Não preciso dizer mais nada, não é?
Então, para finalizar, como estamos aqui sempre aprendendo e mudando, hoje eu faria alguns ajustes no storytelling que criamos com a Carmen em 2015.
Eu vou manter aquelas duas perguntas iniciais:
Vamos juntos e conectados?