Eleições, Escolhas e o Poder das Histórias

2 de dezembro de 2014

Matéria originalmente publica no Brasil Post em 21 de novembro de 2014.

Histórias são poderosas.

Chavão dito e repetido à exaustão por empresários, palestrantes, políticos, marqueteiros, publicitários, todos compraram essa ideia e querem usar histórias como forma de se relacionar, envolver e engajar.

Storytelling está na moda e não é à toa, a história é uma ferramenta realmente poderosa e um evento, em especial, nos leva a comprovar esse poder: as eleições presidenciais de 2014.

Tão maniqueísta quanto as histórias sobre as quais criamos muitos dos nossos valores e da nossa visão de mundo, essas eleições trataram, basicamente, de duas narrativas:

1. Mulher, defensora da liberdade, protetora dos mais necessitados, preparada para nos defender da ameaça azul que periga tirar tudo o que foi conquistado… 2. Homem representante das pessoas de bem, que querem mudança e o fim de tudo que está aí, a roubalheira e a corrupção, pronto para derrotar o monstro vermelho que tenta subjugar a população.

Visões simplistas? Com certeza. Mas isso é parte do papel das histórias e o tipo de visão de mundo que elas, em geral, propõem. Basicamente, há um herói e um vilão, o certo e o errado, o bem e o mal, a luz e as trevas, o… é, deu pra entender, né? O ponto é que: sim, essas narrativas são simplistas, pois assim são as histórias que ficam na nossa cabeça. Mas, convenhamos, o mundo não é simples, muito menos o mundo da política e, tratá-la assim pode ser bem perigoso.

Nunca antes na história desse país (pelo menos considerando o período democrático) as eleições propiciaram tanto envolvimento. Os debates – os da TV, claro, mas também os praticados no balcão da padaria, no táxi, nas mesas de jantar e nas redes sociais – foram intensos e acalorados. E ainda o são. Independente do lado que você está – sem julgamentos, por favor – o pensamento dominante é “ou você está comigo, ou está contra mim”.

E isso tem ganhado contornos cada vez mais sinistros! Separatismo, ditadura, preconceito, violência, entre outros, são alguns dos temas que dominam o bate-papo. Claro, cada candidato tinha seus ideais, porém, os antagonismos não eram tão antagônicos assim. Em sua palestra durante um TEDx, o economista Tyler Cowen diz:

“Nós somos biologicamente programados para responder às histórias (…), elas tem poder social (…) nos conectam as outras pessoas.”

Agora, juntemos este pensamento ao que escreveu Contardo Calligaris em sua coluna na Folha de São Paulo:

“A existência (suposta) de campos ‘opostos’ permite ‘aderir’ plenamente a um deles, e aderir – ser e sentir-se parte integrante de um grupo – é uma paixão humana quase universal, embora um tanto sinistra. A vontade de aderir a qualquer partido, igreja, torcida ou tribo é quase uma falha moral, que corresponde ao anseio de se perder numa coletividade para poder descansar da tarefa (mais árdua) de inventar pensamentos e critérios próprios.”

A + B e bingo, a gente começa a entender melhor o cenário que tem se desdobrado desde a eleição. O desejo de pertencer é inerente ao ser humano e as histórias potencializam os efeitos disso. Afinal, se são apenas dois lados, não há muito que escolher, ou você está com um ou com o outro. É isso ou votar branco /nulo. Mas escolher um candidato não significa ser absolutamente contra o outro (e aqueles que acreditam nele), nem que você concorda 100% com o escolhido, mas sim que, dentre as possibilidades e analisando diversos aspectos, aquela pareceu a melhor opção, ou a “menos” pior.

Onde fica o aprendizado? Não se basear unicamente em histórias tão simples como as que nos tentam fazer acreditar é um começo para fazer escolhas melhores. Se as eleições de 2014 me ajudaram a enxergar todo o potencial e poder das histórias, elas também me ajudaram a fazê-lo sob uma nova ótica.

Histórias são poderosas ferramentas de comunicação e constantemente utilizadas por bons comunicadores, mas tão importante quanto saber contá-las é saber ouvi-las.

Ao contrário do que muitos pensam, grande parte das nossas habilidades de comunicação são desenvolvidas durante a função de ouvintes. Quando nos abrimos para escutar e analisar o que recebemos sobre vários ângulos e investigar o que está por trás do que está sendo dito, aumentamos nosso repertório, alimentamos nosso poder analítico e abrimos caminho para novos aprendizados.

Bons ouvintes são capazes de transformar-se em ótimos contadores de histórias, pois aumentam em grau e número sua capacidade de identificar o que a audiência precisa e se adaptar ao outro, rapidamente.

Se o termo comunicação significa “trocar e tornar comum”, então, a habilidade de ouvir e analisar histórias ajuda a cumprir o verdadeiro papel do comunicador. Então, se existe uma dica rápida para nos tornarmos melhores comunicadores:

Desconfie de uma só história para ter a chance de ouvir todas as outras.

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