Oi? Tornar comum, partilhar, participar? Por que será que isso não se parece com a comunicação que vemos por aí?
Ed Conde, especialista em didática, compreensão e performance, por 20 anos treinou mais de 25 mil colaboradores em empresas como Embraer, Febraban e Itaú. Depois de tanta experiência, desenvolveu uma teoria interessante. Para ele cada indivíduo acumula em sua vida pastas de repertório, repletas de histórias, experiências e conhecimento que são escolhidas e utilizadas de maneira equivocada durante o processo de comunicação.
Imagine uma conversa. Temos uma mesa, duas pessoas e várias pastas. Cada pessoa coloca suas pastas na mesa, mas as informações das pastas estão prontas, pré-concebidas, engessadas e sem possibilidade de edição. Tudo o que é falado não pode ser alterado e tem um objetivo: persuadir o outro a aceitar uma verdade indiscutível, ou seja, o seu próprio ponto de vista. Sem possibilidade de edição ou negociação, inicia-se uma guerra de egos, onde os participantes da conversa se encaram como adversários e não como pessoas que querem partilhar, participar ou tornar comum.
Ed completa:
A escolha das pastas é, muitas vezes, baseada em preferências pessoais, onde o protagonista é o próprio indivíduo. O conteúdo é envelopado em uma linguagem sofisticada, com muitos termos técnicos e complexos que, eles acreditam, ajuda a garantir uma imagem superior, de especialista. Junta-se a isso recursos áudio visuais com som, efeitos e imagens maravilhosas porque muitos acreditam que isso será responsável por garantir uma comunicação eficaz.
O resultado são reuniões atravancadas, tensas, conversas sem fim e apresentações confusas, onde não se sabe sequer o que precisa ser resolvido porque o objetivo é fazer a sua pasta vencer a outra pasta, ou seja, a sua informação vencer a informação do outro.
Um bom comunicador é, em primeiro lugar, um bom observador. Ele tem que ter a capacidade de observar e analisar situações reais e, de maneira instantânea, adaptar-se ao que está acontecendo. E, se preciso for, ter a capacidade de mudar o curso da conversa.
Comunicar é um processo de transformação constante, envolve, mais do que preparar um conteúdo a ser apresentado. Exige verificar todo o tempo como a mensagem está afetando o público e, se preciso for, inserir novas pastas que não estavam na ideia inicial.
Fazendo um comparativo com a área de design de produtos, ao lançar um novo modelo, o engenheiro primeiro lança um protótipo que evolui a cada teste com base na percepção do usuário. Isso é feito até que o produto fique bom para o consumo. Uma comunicação eficaz deve passar pelo mesmo processo, só que ao compartilhar informação, as mudanças são feitas junto com o usuário, ou seja, o público. A comunicação deve ser compartilhada, experimentada e modificada até que os ruídos, excessos e dúvidas sejam eliminados.
No design de produtos, os que são feitos exclusivamente para profissionais tendem a ser mais simples e fáceis de usar do que produtos que são criados para amadores. Isso também é o que diferencia uma comunicação profissional de uma comunicação amadora. Quanto mais complexa a informação, maior é a possibilidade de dispersar o público para ideias e conceitos fora do que você realmente queria transmitir. Quanto mais simples for a comunicação, mais profissional será porque o foco, nesse caso, será facilitar a informação até que qualquer pessoa possa compreender.
Uma boa comunicação tem sempre suas pastas abertas para edição porque, o objetivo da troca é gerar pastas novas, que não pertencem nem ao comunicador, nem ao receptor da mensagem. O ego fica fora da jogada. O assunto discutido é o fator mais importante e por isso, as pastas criadas durante o processo são totalmente novas e surgem das misturas das informações que vem dos participantes.
Pergunte: O que meu diretor vai fazer a partir desses dados? O que ele tem a ver com essa informação?
Mude de lado na mesa, pense como a diretoria: suas pastas estão repletas de decisões a serem tomadas a partir da informação recebida, então, que tal pensar no que os dados poderão ajudar nessas decisões?
Se a entrega for resultados positivos de um período, que tal associá-los às boas práticas que os originaram? Se os resultados forem negativos, que tal, além de esclarecer o porquê, já propor ideias e experiências que ajudem a superar esse momento?
E pergunte-se: o que normalmente tem no último slide? O resultado principal? Será que não seria, realmente, a primeira coisa a entregar? Quanto menos tempo você tiver, mais rápido você deve ser na entrega do principal.
A regra é: Primeiro entregue o que o público deseja, e se for interessante, você pode ganhar o tempo que precisa para explicar “como chegou lá”.
E mesmo que preparado com as informações mais relevantes, é importante estar de pastas abertas, flexíveis e em “riste” para mudar de tática se o diretor trouxer, por exemplo, uma informação que você não tem.
No fim das contas, observar o público, ouvir suas necessidades e adaptar-se a todo instante é o segredo para criar comunicação eficiente e inspiradora.